terça-feira, 17 de julho de 2012

900 palavras: Na Estrada ( resenha )


Nota: 9
 

Ao abrir essa folha em branco, impossível não associar essa imagem a do filme onde à folha em branco da maquina de escrever de Sal Paradise o remete à estrada. Afinal, uma folha em branco é liberdade total, mil possibilidades, perigos, aventura, incerteza... tal como a estrada que é o fio condutor desse filme (e do livro). 

Então antes que me perca nessa liberdade toda, quero deixar três coisas bem claras nessa resenha: Na estrada é com toda certeza um dos melhores filmes do ano; Na estrada é uma adaptação honesta, emocionante e impressionantemente fiel do clássico livro “On the road” Jack Kerouac; E ninguém (nenhum outro diretor, roteirista ou equipe) seria capaz de recriar com tanta exatidão esse mundo descrito no livro como foi feito por Walter Salles e sua equipe; 

Leia-se que o filme é produzido por Francis Ford Coopola e sua produtora. O próprio Coopola esteve muito próximo de ele mesmo dirigir sua versão desse clássico tendo como protagonista Johnny Depp ainda na década de 90. Mas vamos convir francamente mesmo sendo Coopola um grande mestre do cinema e Deep um “puta” ator, com certeza teríamos um belo roadmovie, mas não uma versão tão honesta quanto essa que encaixa muito melhor ao espírito e essência da obra de Kerouac.
Para capturar a aura daquele mundo habitado por Sal Paradise e Dean Moriarty o diretor, brasileiro, Walter Salles (já acostumado com Road movie humanos e realistas como Central do Brasil e Diários de Motocicletas), roteirista Jose Rivera (do também Diários de Motocicletas) e sua equipe passaram 5 anos visitando cada lugar viajado pelos protagonistas do livro, entrevistando as pessoas que viveram o período, etc. Para dar forma aquele mundo. 
A partir desses estudos nasceu um roteiro enxuto que da conta das principais passagens do livro (momentos importantes para entender o espírito aventureiro e anárquico dos seus personagens. E outros momentos necessários para compreender alma dos mesmos).
A direção naturalista do diretor Walter Salles que usa câmera na mão, ângulos cuidadosamente escolhidos (mas que soam despojados), com cortes secos e edição minimalista cria um clima realidade, sem soar semidocumental ou vazio (sem sentimento). Enfim uma direção primorosa e estilisticamente rica, mas que ainda sim da mais espaço para seus atores do que se costuma ver no cinema americano habitual. O resultado disso são atuações verdadeiras e autenticas como raramente pode ser visto no cinema. 
Tocando no assunto todos atores tem atuações excepcionais. Seja o trio de protagonistas semidesconhecidos exceto pela atriz Kristen Stewart (que ficou famosa com sua personagem sem sal dos igualmente sem graça filmes da “saga Crepúsculo”), mas aqui ela esta muito bem com seu olhar incerto e cheio de dor, ao mesmo tempo em que extrapola de energia e loucura (vide cena da dança que espetacular). Assim como ator Sam Riley (Control) que transforma o seu Paradaise numa versão genuína do personagem do livro, sempre passivo e observador perante a loucura dos seus amigos, mas sempre com um largo sorriso no rosto. E por fim o ator Garrett Hedlund (vindo do meia boca Tron Legado) cria um personagem tridimensional esplendido, interpretando com uma fidelidade única um dos personagens mais complexos  da literatura americana. Aqui no filme o ator se transforma no Dean Moriarty do livro com uma exatidão impressionante: com olhar hora extasiante, hora melancólico, com sorriso, energia, anarquia, etc. Tudo exatamente como descrito no texto original: genial, trapaceiro, encantador, gentil, mas gritando para ser salvo.
Ainda sobre elenco os coadjuvantes são extraordinários, e nesse ponto vem a único pesar do longa, como a narrativa do autor Jack Kerouac é muito extensa e ágil, sobra pouco tempo num filme de 2 horas para personagens secundários, mesmo que interessantes e muito bem interpretados por atores como Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Amy Adams, Steve Buscemi, Elizabeth Moss, Terrence Howard, Alice Braga, Tom Sturridge  e etc. Mas de qualquer todas as suas parições desses atores, e personagens, são pontuais e de grande importância narrativa para o filme o que compensa a pena por ter que deixa-los tão rápido. 
Enfim um filme brilhante que merece ser visto inúmeras vezes (e vou fazê-lo). Como já foi dito um filme que captura de forma única e excepcional alma e essência de uma época. Uma pequena que sociedade ainda mais imediatista, medrosa, passiva de hoje está mais preocupada com pequenos problemas e seus minicelulares do que com viver de verdade ou sentir algo de diferente e único. Logo o espírito de liberdade do livro (e filme) estão completamente fora de moda nessa juventude (e na comunidade) sem atitude ou vontade fazer algo diferente além ter uma vida monótona, movida por status e futilidade. Filmaço! Que resgata  uma geração que infelizmente foi perdida, o retrato de uma época...    

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