Nota: 9
Ao abrir essa folha em branco, impossível
não associar essa imagem a do filme onde à folha em branco da maquina de
escrever de Sal Paradise o remete à estrada. Afinal, uma folha em branco é
liberdade total, mil possibilidades, perigos, aventura, incerteza... tal como a
estrada que é o fio condutor desse filme (e do livro).
Então antes que me perca nessa
liberdade toda, quero deixar três coisas bem claras nessa resenha: Na estrada é
com toda certeza um dos melhores filmes do ano; Na estrada é uma adaptação
honesta, emocionante e impressionantemente fiel do clássico livro “On the road”
Jack Kerouac; E ninguém (nenhum outro diretor, roteirista ou equipe) seria
capaz de recriar com tanta exatidão esse mundo descrito no livro como foi feito
por Walter Salles e sua equipe;
Leia-se que o filme é produzido
por Francis Ford Coopola e sua produtora. O próprio Coopola esteve muito
próximo de ele mesmo dirigir sua versão desse clássico tendo como protagonista Johnny
Depp ainda na década de 90. Mas vamos convir francamente mesmo sendo Coopola um
grande mestre do cinema e Deep um “puta” ator, com certeza teríamos um belo
roadmovie, mas não uma versão tão honesta quanto essa que encaixa muito melhor
ao espírito e essência da obra de Kerouac.
Para capturar a
aura daquele mundo habitado por Sal Paradise e Dean Moriarty o diretor,
brasileiro, Walter Salles (já acostumado com Road movie humanos e realistas como
Central do Brasil e Diários de Motocicletas), roteirista Jose Rivera (do também
Diários de Motocicletas) e sua equipe passaram 5 anos visitando cada lugar viajado
pelos protagonistas do livro, entrevistando as pessoas que viveram o período, etc.
Para dar forma aquele mundo.
A partir desses
estudos nasceu um roteiro enxuto que da conta das principais passagens do livro
(momentos importantes para entender o espírito aventureiro e anárquico dos seus
personagens. E outros momentos necessários para compreender alma dos mesmos).
A direção
naturalista do diretor Walter Salles que usa câmera na mão, ângulos
cuidadosamente escolhidos (mas que soam despojados), com cortes secos e edição
minimalista cria um clima realidade, sem soar semidocumental ou vazio (sem
sentimento). Enfim uma direção primorosa e estilisticamente rica, mas que ainda
sim da mais espaço para seus atores do que se costuma ver no cinema americano habitual.
O resultado disso são atuações verdadeiras e autenticas como raramente pode ser
visto no cinema.
Tocando no
assunto todos atores tem atuações excepcionais. Seja o trio de protagonistas semidesconhecidos
exceto pela atriz Kristen Stewart (que ficou famosa com sua personagem sem sal
dos igualmente sem graça filmes da “saga Crepúsculo”), mas aqui ela esta muito
bem com seu olhar incerto e cheio de dor, ao mesmo tempo em que extrapola de
energia e loucura (vide cena da dança que espetacular). Assim como ator Sam
Riley (Control) que transforma o seu Paradaise numa versão genuína do
personagem do livro, sempre passivo e observador perante a loucura dos seus
amigos, mas sempre com um largo sorriso no rosto. E por fim o ator Garrett
Hedlund (vindo do meia boca Tron Legado) cria um personagem tridimensional
esplendido, interpretando com uma fidelidade única um dos personagens mais
complexos da literatura americana. Aqui
no filme o ator se transforma no Dean Moriarty do livro com uma exatidão
impressionante: com olhar hora extasiante, hora melancólico, com sorriso,
energia, anarquia, etc. Tudo exatamente como descrito no texto original: genial,
trapaceiro, encantador, gentil, mas gritando para ser salvo.
Ainda sobre
elenco os coadjuvantes são extraordinários, e nesse ponto vem a único pesar do
longa, como a narrativa do autor Jack Kerouac é muito extensa e ágil, sobra
pouco tempo num filme de 2 horas para personagens secundários, mesmo que
interessantes e muito bem interpretados por atores como Viggo Mortensen,
Kirsten Dunst, Amy Adams, Steve Buscemi, Elizabeth Moss, Terrence Howard, Alice
Braga, Tom Sturridge e etc. Mas de
qualquer todas as suas parições desses atores, e personagens, são pontuais e de
grande importância narrativa para o filme o que compensa a pena por ter que
deixa-los tão rápido.
Enfim um filme
brilhante que merece ser visto inúmeras vezes (e vou fazê-lo). Como já foi dito
um filme que captura de forma única e excepcional alma e essência de uma época.
Uma pequena que sociedade ainda mais imediatista, medrosa, passiva de hoje está
mais preocupada com pequenos problemas e seus minicelulares do que com viver de
verdade ou sentir algo de diferente e único. Logo o espírito de liberdade do
livro (e filme) estão completamente fora de moda nessa juventude (e na comunidade)
sem atitude ou vontade fazer algo diferente além ter uma vida monótona, movida
por status e futilidade. Filmaço! Que resgata
uma geração que infelizmente foi perdida, o retrato de uma época...
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