quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Retrospectiva: Melhores álbuns nacionais de 2011

Por: Douglas Ribeiro

Seguindo as listas trago agora os melhores álbuns nacionais de 2011. E mais algumas menções honrosas.

15. Fabio Góes – Destino Vestido de Noiva

A primeira a vista não me encantei com a obra de Fabio Góes. Mas depois de um tempo com uma olhada mais sincera e com calma notei que segundo do álbum desse artista é uma perola de sensibilidade e inteligência singular no meio dessa chuva de sucessos descartáveis que infesta o mercado fonográfico Brasileiro. O álbum cheio de arranjos complexos, um pé no pop e pós-rock sem deixar de lado um pé na MPB. Um álbum que fica mais gostoso a cada audição, letras poéticas e cheias amargura. Belíssimo!

14. Chico Buarque – Chico
Chico é Chico (e ponto final). Chico Buarque é de longe o maior compositor do Brasil. Esse álbum do Chico instrumentalmente não trás nada de novo, tudo é tão sóbrio que quase soa mais do mesmo. Por isso não acho álbum tão espetacular quanto falam por aí, mas habilidade com as palavras de Chico é inegável e é o bastante para ficar entre os finalistas de qualquer lista do mundo. Nesse álbum ele canta a solidão, memórias, religião, amor e conflito de idades como ninguém conseguiria. Moral da história o disco é instrumentalmente elegante e compete sem grandes novidades, mas como compositor Chico Buarque se mostra ainda mais corajoso e sem medo de errar. Afinal quem se não Chico Buarque é capaz de cantar “hoje pensei ter religião/de uma ovelha talvez fazer sacrifício/por uma estatua ter adoração/amar uma mulher sem orifício” quando se tratando de religião sem suar absurdo?

13. Karina Buhr – Longe de Onde

Karina Buhr tinha cara de ser mais uma dessas interpretes que com repertórios com musicas de MPB. Quando peguei para ouvir fiquei meio assim, mas seu trabalho é muito mais ancorado num rock torto que faz um belo contraste com a voz doce e de sotaque carregado. O álbum passeia pelo surf music, loopings eletrônicos, hard rock e saxofones.  As letras são cheias de sarcasmo, cinismo e contradições. Por exemplo: o single “Carapalavra”: “despertador, apaga a dor, vai embora – fica!”; “Não Me Ame Tanto”: “Não Me Ame Tanto/Tenho alguns problemas com amor demais”; “Cadáver”: “se a dúvida é produto da sua escravidão/mantenha então/sua sanidade indefesa do seu estômago”. “Porque o tempo vai passando e suas qualidades vão sumindo”; E assim segue um álbum com sonoridade estridente, incomum, mas coerente.

12. Bixiga 70 – Bixiga 70
Bixiga 70 é um álbum instrumental que passeia com inteligência por sons que vão do Jazz, música latina, pop que parecem ser uma mistura enlouquecida de Hermeto Pascal com trilhas sonoras de filmes da década de 70. A Banda tem 10 integrantes vindos cada um de diferentes projetos e de uma cena paulistana daí a grande gama de referencias. Um álbum com clima nostálgico, mas super atual e sofisticado. Vale a pena correr atrás!
11. Nuda - Amarénenhuma
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Nuda é nova cara do rock de Pernambuco. A banda nesse álbum passeia entre guitarras estridentes e a calmaria num piscar de olhos. A banda se distancia de qualquer movimento regionalista ou da febre “pós-hermanica” criando um som autentico e próprio. As letras são muitas vezes criticas, pode ser de protesto, mesmo quando é cantado o amor ou uma ode ao samba soa forte e estridente (Com solos de guitarras fritados em alguns momentos, hifs de rock’n roll e hard rock, sonoridade regionalistas samba, frevo e etc). Tudo muito bem orquestrado e espetacularmente executado. Uma boa pedida para quem quer encontrar algo de novo de verdade. De uma conferida na maresia e suavidade (com refrões e sonoridade bem regionalista e empolgante) de “O mar é nenhuma” e “Prece da Ponta da faca”; e nas guitarras cheias de energia de “Ode aos ratos”, releitura rock de Chico Buarque e “Samba de Palheta” rock n’ roll de primeira. E muito mais. Um grande achado de 2011!

10. Agridoce – Agridoce
Nunca pensei que gostaria de um disco da Pitty. Nunca fui fã da banda dela, tudo me soava um “rock’n rollzinho” de terceira e de modinha. As letras me pareciam lições de morais que todo mundo já sabe e revoltas sem causas. Mas não é que a moça tem talento nesse projeto paralelo com novo guitarrista (Martin) da banda dela. Ela criou uma pequena perola do folk nacional tendo como inspiração Leonard Cohen, Nick Drake e Jeff Buckley. O disco tem melodias suaves e deliciosas que casam muito bem com letras muitas vezes amargas. Uma vez vi alguém definir o álbum como: ‘músicas doces para pes¬soas amar¬gas’. Assino em baixo. Belíssimo álbum! Da até para da um voto de confiança para moça e ficar de olho no seu próximo projeto. Largue de preconceitos e se arrisque. Muito bom.

9. Marcelo Camelo – O Toque Dela

Os discos do Marcelo Camelo solo me lembram uma espécie de Los Hermanos pela metade, uma vez que os discos da banda se dividiam entre a canções mais suavez com Camelo no vocal e algumas mais rock’s ou pelo menos estridentes com a voz de bêbado do Amarante. A minha percepção em relação ao primeiro álbum do Camelo era essa: um ótimo álbum, sensível e inteligente, mas sentia falta do lado mais agressivo do Amarante. Agora nesse segundo álbum a sensação parece quase à mesma, mas tudo soa mais familiar. Toque Dela é álbum reflete um compositor e um cantor mais seguro e maduro. Talvez reflexo da sua vida pessoal já que nesse disco Camelo troca as velhas dores de amor por canções, ainda sim sensíveis e com tom melancólico, mas que falam sobre a tentativa de entender e debater amor já consumado. Instrumentalmente o álbum é sofiscado e singular. Obs:  o disco tem também ótimas participações especiais Kassin, Marcelo Jeneci e Mallu. Marcelo Camelo finalmente vem se consolidando como uma grande artista solo, capaz de ter uma carreira independente de qualquer comparação com sua consagrada ex-banda.

8. Tiê - A coruja e o coração


Tiê ficou conhecida com belo álbum de estréia em 2009 considerados por muitos uns dos melhores daquele ano. O primeiro álbum era construído com canções sobre amores frustrados o que combinava muito bem com sua voz singela e os arranjos de violão melancólicos. Mas antes que pudessem lhe elegerem a nova rainha indie ela resolveu aparecer com “A coruja e coração”. Nesse segundo álbum ela foge de qualquer rotulo e se mostra um interprete antenada capaz navegar por diferentes estilos e ainda sim manter a unidade criando um álbum único. “Na Varanda de Liz” que abre disco é suave bela como poucas musicas. Já “Só sei dançar com você” tirada do álbum de Tulipa Ruiz (talvez daí comparação) tudo soa campestre com acordeom belíssimo tocado por Marcelo Jeneci e um banjo. Já “Perto e Distante” é bem delicada e com participação Jorge Drexler. O folk indie só volta com “Pra alegrar o meu dia”, “For you and me” e “Hide and seek”, com participação de Hélio Flanders (Vanguart). E por aí vai viajando entre ritmos e canções até a inusitada versão flamencada do sucesso novelesco bregapop “Você não vale nada” da malfadado grupo Calcinha Preta. Com essa musica cantora prova que com os arranjos e voz certa é possível fazer uma musica tida brega suar sofisticada e divertida, ainda que continue brega (mas ser brega nem sempre ruim). Pois, Tiê conseguiu um dos melhores resultado do ano entre as diversas interpretes que se arriscaram em 2011(vide: Mallu, Pitty, Gadu, Karina Bhur, etc).

7. Transmissor – Nacional
Na lista dos melhores discos internacionais já havia dito que 2011 foi o ano do folk. Isso se repete até no cenário nacional por exemplo “Agridoce”, algumas partes de “A Coruja e o coração” da Tiê. Nesse segundo álbum da banda mineira Transmissor o grupo consegue criar um registro consistente e uniforme como poucos misturando folk, pop e principalmente influencias em grandes doses de Clube da esquina. Da primeira faixa a ultima o disco é sem duvida um dos resultados mais espetaculares do ano. Que vai do lirismo sensível de musicas como “Bonina” (refrões mais deliciosos da musica nacional desde fim do Clube da esquina) e a canções mais leves como “Traz o sol pro meu lado da rua”. Transmissor um nome para ficar de olho no cenário nacional.

6. Pélico – Que isso fique entre nós

Pélico fez o álbum mais divertido do ano. Isso é indiscutível! Navegando entre indie pop e bregarock que de fazer inveja a Reginaldo Rossi e Odair José. Resultado são 16 faixas inesquecíveis que conseguem ser sentimentais e criativas como poucas nos últimos anos. Talvez reflexo da sua vida pessoal, pois havia sido expulso de casa pela mulher. Resultado 16 desabafos “intimistas” e ao mesmo tempo escancarados, cheios de humor e solidão. Uma pequena obra prima do novo “brega rock nacional”. Brilhante!

5. Quarto Negro- Desconhecidos

Quarto Negro no álbum "Desconhecidos" conseguiu o que outras bandas levam uma vida toda para conseguir. Um registro maduro, de uma veia pop única sem se encaixar em nenhum cenário ou gênero, letras carregadas de poesia que vão de Vinicius de Moraes a Hemingway. A banda foi a Barcelona fez intercâmbio cultural e fechou parceria com distribuidora de lá. Contrataram produtor, assessoria e até mesmo agência de mídias sociais para garantir que seu trabalho seria exposto corretamente. E todo esse cuidado se refletiu em um álbum quase impecável. Instrumentais requintados (longos, de vez enquanto viajados e suando como rock progressivo), refrões com uma pegada pop que fariam inveja a grande parte dos músicos atuais. Uma das melhor coisa do cenário pop rock’n nacional em anos.

4. Marya Bravo – De pai para filha

Marya Bravo em “De pai para filha” fez o álbum mais rock’n roll do ano. O disco é uma homenagem ao seu pai Zé Rodrix. Por isso o disco é um achado com canções hipongas “de bicho grilo” como anos não se viam. Então fugindo do MPB ou canções habituais cantadas pelas interpretes comuns, Marya Bravo trouxe de volta ao cenário nacional, clássicos como “Casa no Campo” e “Mestre Jonas”. Rock’n roll’s setentista como “Eu vou Comprar esse disco” e “Hey Man”. Tudo bem! As letras podem parecer empoeiradas, hippies e até fracas. Mas o resultado que fica é nostálgico e empolgante. Instrumental impecável e vocal de qualidade inquestionável faz embalagem e resultado final ficar ainda melhor. O álbum mais subestimado do ano.


3. Cícero – Canções de Apartamento
Não há duvidas que “Canções de Apartamento” é o álbum mais importante dentro cenário independente, pelo menos na esteira das bandas que tentam pegar o lugar deixado por Los Hermanos. O disco é composto por 10 canções carregadas de melancolia, com instrumental belíssimo e versos brilhantemente encaixados. Cícero pode parecer apenas melhor opção para fãs carentes dos Hermanos matarem a saudade, mas o álbum é muito autentico e próprio. Na verdade é um álbum bastante pessoal, claro que cheio referencias como: os próprios Los Hermanos, Caetano, Hadiohead, Tom Jobim e Chico Buarque (mas sem chupar descaradamente nenhuma). Som único e original. Música orgânica e de verdade como a tempo não se via.

2. Lenine – Chão

Lenine é demasiadamente subestimado. E esse álbum Chão é uma perola rara dentro da musica brasileira. A idéia aqui é criar todos os arranjos e músicas a partir de um som do cotidiano. E Usar esses elementos corriqueiros como ponto central das composições, como marcação rítmica. O que poderia parecer um artifício estilístico vazio aqui se torna um recurso orgânico e natural. Para se ter uma idéia aqui invés de bateria se tem passos no chão, coração batendo, apito de chaleira, o canto de cigarra ou serra elétrica. E todos esses elementos se encaixam de forma única com as letras que são um caso a parte (exemplo em “Envergo mais não quebro” se tem o som da serra elétrica como matriz). Indo da MPB acústica “Amor é pra quem ama” particular do seu estilo ao rock soturno e pesado como em “Seres Estranhos”. Um disco muito além do experimentalismo pelo experimentalismo, um a álbum completo, imaginativo e saboroso. Um disco para se ouvir com a alma!

1. Criolo – O Nó da orelha

O Bloco do Eu sozinho do Los Hermanos é considerado um dos melhores álbuns de uma geração por causa da sua qualidade, as misturas de estilos e pela capacidade de cada musica ser estilisticamente única e ainda conseguir ser um álbum consistente e coerente. Algo parecido acontece com Criolo em “O Nó na Orelha”. Criolo é uma figura conhecida do rap nacional, mas aqui ele abandona qualquer vicio do estilo e cria um álbum brilhante que vai do samba de raiz, musica latina, reggae, jazz, o próprio rap até o brega descarado sem medo errar. Tudo isso com letras ricas e espetaculares que pegam emprestado a força e radicalismo do rap e se misturam a influencias a literatura (vide: numa brincadeira irônica e inteligentíssima sobre o submundo das muambas em Bogotá existe referencias a Manuel Bandeira: “Vai ser melhor que Passaguarda/ agradar até o rei”), influencias também ao cotidiano, a pintura (Frida Kahlo, Di Cavalcanti), a turma da mônica (Linha de Frente – “Nó da sua orelha ainda dói em mim/ cebolinha mandou avisar/ quando “fleguesa” chegar”,“Na turma da mônica do asfalto/Cascão é rei do morro/ a chapa esquenta fácil”),  a prórpria música, as ruas, a acontecimentos históricos e muito mais. Não é atoa que Criolo é artista mais falado do ano, todos elogios se justificam. Nunca se viu um rap com tantas sofisticação e ousadia. Sem deixar de ser critico e inconveniente paras a grandes massa Criolo trouxe um dos melhores discos da história musical brasileira com inteligência e sofisticação que daria inveja a Caetano, Chico e qualquer outro grande MPB. 

Obs: Melhor música do ano é sem duvida nenhuma “Não existe amor em SP” seguida de pertinho pela já citada “Bogotá”, “Linha de Frente”. Mas no fim das contas o álbum inteiro é impecável! 

Menções honrosas: Malu – Pitanga – entre tantas cantoras talentosas que deram as caras em 2011, Mallu estava entre elas e trouxe seu segundo álbum “Pitanga”. Agora se mostrando muito influenciada pelo seu amado Marcelo Camelo. O álbum tem sonoridades suaves e sofisticadas, os dois pés na MPB soando quase como um disco que completa “O toque dela” álbum do Camelo. O resultado é somente satisfatório apesar de parecer mais madura pela qualidade inquestionável da obra mais abrasileirada e bem acabada, ainda me soa um pouco genérica como se ela não tivesse encontrado a sua musicalidade própria e seguido a do seu parceiro. Não é ruim, mas podia ser mais.

Wado – Samba 808 – Para muitos Wado é um gênio. Para mim ele bacana, mas se excede quanto a letras abstratas demais, apesar de ter um ritmo invejável. Com esse álbum cheio de participações especiais é ótimo e diferente. Vale uma confira sem compromissos.

A Banda mais bonita da cidade – Pensei não citar aqui nas menções honrosas, mas vamos ser verdadeiros e sem idéias preconcebidas os caras tiveram a manha que compor uma das mais doces e grudentas (no bom sentido) de 2011 a batida “Oração” (digam o que quiser por mais batida e enjoativa que a musica tenha se tornado pelo excesso de exposição, ele continua sendo uma bela canção simples, harmoniosa e bacana como deve ser uma boa canção pop). Mas não se engane o álbum em si é cheio de musicas melancólicas e carregadas metáforas fortes. Enfim o álbum é ótimo com muitas coisas boas, mas tem também muita coisa que soa pretensiosa e genérica. Vale apena conferir sem preconceito e torcer para que a banda se encontre verdadeiramente e se torne realmente autentica, por que ainda me soa meio: “mamãe quero ser novo Los Hermanos”.

 Quer ver as outras listas entre na categoria: Listas e confira: Melhores séries de 2011 (divida em 3 partes), Os Piores e Melhores momentos da TV aberta em 2011 e Melhores álbuns internacionais de 2011. Os piores álbuns de 2011 na lista feita pelo parceiro do blog Marcelo e muito mais.  Até a próxima com as listas dos melhores e piores filmes.

2 comentários:

  1. Cara, eu colocaria o novo do Forgotten Boys na lista...

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    1. Cara, como disse na resposta ali em baixo compilei a lista entre 53 albuns mais ou menos. e deixei passar em branco esse album baixei agora de manha, pela primeira audição parece ótimo...é isso aí, um abraço Marcelo!Vc podia postar sua lista quando mais diversidade melhor, é possivel que consiga achar algo novo também!

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